Pediram-me para fazer a apresentação deste livro sobre a vida e a obra do pintor mirense Nuno Pedreiro. Esclareço, no entanto, que o conheço mal na sua intimidade, nas suas preocupações de artista, nos seus projectos futuros e no seu modo de ver a arte. Os meus contactos com ele têm sido apenas em encontros ocasionais, nomeadamente, por altura das Festas de S. Tomé, onde, de há uns anos para cá, expõe os seus trabalhos num “stand” que se aluga para o efeito. Por outro lado, somos de gerações diferentes. Temos, com certeza, maneiras diferentes de abordar os problemas. Nada se aproxima na maneira de pintar ou desenhar. Nada disto, porém, impede de tentar fazer uma leitura do seu trabalho em geral, e, deste livro em particular, o que em súmula nos dá uma perspectiva do Nuno Pedreiro. – 15 Anos de Carreira. É, assim, precisamente, o título desta obra editada pela Editora mirense “Areias Vivas”.
Abro aqui uns parênteses para elogiar a Editora, que teve a coragem e a iniciativa de publicar um livro desta natureza (a cores e com muitas imagens) aqui, no Concelho de Mira, e, com redobrados elogios pela benemérita filantropia da receita de vendas do mesmo se destinar à “Associação de Solidariedade Social dos Carapelhos e Corticeiro de Baixo”, com a anuência, claro, do Nuno Pedreiro.
O logótipo de “Areias Vivas” apresenta na parte inferior a seguinte frase “…damos força às palavras”. Pelos vistos, também dão força às imagens… que é o que se passa nesta edição.
Escolheram-me para falar da obra do Nuno, porque somos colegas do mesmo ofício. Também sou pintor… diplomado pela Escola de Belas Artes de Lisboa. Ao Nuno não foi dada esta oportunidade. Mas…, pela minha experiência asseguro-vos que não se aprende a ser artista nas Escolas ou nas Academias. O talento e o dom existem ou então não há escolas que valham.
É o caso do Nuno. Tinha com ele o dom, que, diga-se, só por si também não basta, é necessário trabalho, aperfeiçoá-lo, reflectir sobre o modo de o utilizar. É assim que, pouco a pouco, os resultados vão surgindo, as imperfeições vão-se esbatendo, a clareza e a limpidez das cores tornam-se luminosas na tela. Estes avanços técnicos estão bem patentes nas suas últimas obras, se as compararmos com outras realizadas à anos atrás.
O artista ao dominar a técnica torna tudo mais espontâneo, as soluções surgem com outra facilidade, o gesto liberta-se e, assim, expressa melhor as suas emoções.
A par das dificuldades técnicas advém outra: a procura do estilo! O estilo corresponde ao modo pessoal como o autor dá vida às cores e às formas. Ao modo como as relaciona no quadro, e que delas transpareça uma individualidade própria. Mas… não se ficam, por aqui, as preocupações do artista criador. É que é necessário reflectir, pensar no assunto que pretende deixar expresso no quadro, ou seja o tema. E, na mente do criativo desfila o campo inesgotável da imaginação, que pode estar associada a aspectos que têm a ver com: o real, o irreal, o surreal, o hiper-real ou mesmo a pura abstracção.
Neste particular, na obra do Nuno, é bem evidente a tendência para a realidade visível, ainda que, muitas vezes recorrendo à memória ou ao registo fotográfico de cenas de um passado recente.
Não estou aqui para falar de mim, mas, só por uma questão de comparação, direi que as minhas preocupações na definição do meu estilo, vão no sentido contrário ao do Nuno, já que, procuro afastar-me dessa realidade visível. O exemplo é só para dar a entender que os caminhos da criação artística são infinitos e díspares.
As obras do Nuno e, em particular, os retratos, são de uma fidelidade à imagem fotográfica que por vezes a excede em detalhes. A sua técnica de “Sfumato” (esbatidos) inventada na época da Renascença Italiana do Século XV por Leonardo da Vinci é de grande eficácia e subtileza. A agudeza do seu olhar na captação das imagens reais visíveis, é comparável à objectiva fotográfica que ele – utilizando noutros meios – transporta para o desenho ou a pintura.
Na sua galeria de modelos retratados, inclui numerosas figuras mediáticas do espectáculo, da televisão, do futebol e da política.
Muitas dessas suas obras têm surgido nos ecrãs da televisão com alguma frequência, graças ao apoio do seu amigo e figura conhecida que é o actor e apresentador Fernando Mendes. É, a partir deste meio de comunicação, que o pintor Nuno Pedreiro se tem tornado conhecido pelo país fora. Ele próprio o afirma na entrevista que dá à Dr.ª Donzília Alves no livro agora publicado, ao dizer: - “que exponho na melhor galeria do país, que é a televisão”!
Se não é a melhor, é, sem dúvida, o meio mais eficaz para levar o seu nome ao conhecimento de milhões de portugueses.
Nessa mesma entrevista, sobre a sua obra pictórica afirma: “A minha pintura é muito simples. É o reflexo do que sou. Pretendo transmitir emoções, sensações e… especialmente pintar a minha Gândara”.
Na frase final “a minha Gândara” adivinha-se uma grande emoção; sente-se nela um enorme sentido de gratidão. O Nuno é um gandarez do coração, e, por ter sido dotado com capacidades de expressar as paisagens, os usos e os costumes da região que o viu nascer, conferem-lhe raízes profundas a este solo e a estas gentes. O facto de ter ido para a Venezuela apenas com três anos de idade; ao fim de dez anos regressar à Lentisqueira natal, onde se fixou para morar, trabalhar, casar e ser pai de uma menina, nunca o fez desvincular-se, emocionalmente, desse lugar situado no “Coração da Gândara”.
Tendo-se revelado, desde criança, a tendência para o desenho e a pintura, é, contudo, com o seu regresso a Portugal que toma a decisão da sua vida: tornar-se pintor!
Posso imaginar, que, o decidir enveredar por uma carreira artística de alguém que vive numa pequena aldeia, revela uma obstinação, que só o talento e o amor à arte justificam. Apesar dos encalhos e das dificuldades iniciais, lá foi conseguindo quebrar as barreiras do isolamento geográfico da Lentisqueira e da sua “Gândara”. É que, mesmo em grandes cidades muitos artistas não conseguem transpor as barreiras do anonimato.
Hoje o Nuno conseguiu atingir um patamar na escala do sucesso, que lhe permite trabalhar sem ter de cumprir horários rígidos… o que não quer dizer que trabalhe menos. Fazer da arte um modo de vida requer trabalhos redobrados e sem direito a reforma… pois um artista nunca a deseja.
E é assim que o Nuno vai pintando a “sua Gândara”legando aos vindouros uma vasta documentação de obras pintadas e desenhadas dos usos e costumes, em vias de extinção, que no futuro constituirão um repositório de relíquias de um passado que formaram a identidade das gentes desta região.
O fenómeno da globalização, vai estabelecendo os conceitos específicos e particulares dos lugares, das regiões e mesmo o de fronteiras. O que nos ligará ao passado é a memória, auxiliada pelos registos visuais, escritos e sonoros.
E, por isto ser verdade, não nos devemos esquecer de outro artista mirense que trabalha a madeira a canivete, criando uma vasta galeria de personagens em acção, na prática de velhos costumes gandareses. Trata-se de uma documentação fundamental, a lembrar um passado recente vivido pelos nossos pais e avós. Refiro-me à obra escultórica com características muito populares de Manuel Carapito, também conhecido por Neco Pompeu.
Aqui deixo o alvitre à Editora “Areias vivas” para que a obra deste artista seja tema de um possível livro com a chancela desta Editora.
Manuel Carapito e Nuno Pedreiro representam duas sensibilidades distintas de artistas, tanto pelos estilos, como pelas técnicas utilizadas, mas com uma particularidade comum, que é o de expressarem nas suas obras as suas vivências directas e pessoais que reflectem bem o meio onde nasceram e vivem.
Para finalizar, e sobre o que acabei de dizer, gostaria de emoldurar com um pensamento que, em síntese, desse um sentido profundo à minha modesta oratória. É aqui, que nos servimos das tábuas de salvação, que, normalmente, nos atiram os mestres do pensamento e da literatura.
Esta, vem do grande escritor francês do séc. XIX: Victor Hugo, que no prefácio do seu livro “Cromwell” escreve a certa altura:
“O fim da arte é quase divino: ressuscitar se faz história; criar se faz poesia”.
Obrigado!!!
Abro aqui uns parênteses para elogiar a Editora, que teve a coragem e a iniciativa de publicar um livro desta natureza (a cores e com muitas imagens) aqui, no Concelho de Mira, e, com redobrados elogios pela benemérita filantropia da receita de vendas do mesmo se destinar à “Associação de Solidariedade Social dos Carapelhos e Corticeiro de Baixo”, com a anuência, claro, do Nuno Pedreiro.
O logótipo de “Areias Vivas” apresenta na parte inferior a seguinte frase “…damos força às palavras”. Pelos vistos, também dão força às imagens… que é o que se passa nesta edição.
Escolheram-me para falar da obra do Nuno, porque somos colegas do mesmo ofício. Também sou pintor… diplomado pela Escola de Belas Artes de Lisboa. Ao Nuno não foi dada esta oportunidade. Mas…, pela minha experiência asseguro-vos que não se aprende a ser artista nas Escolas ou nas Academias. O talento e o dom existem ou então não há escolas que valham.
É o caso do Nuno. Tinha com ele o dom, que, diga-se, só por si também não basta, é necessário trabalho, aperfeiçoá-lo, reflectir sobre o modo de o utilizar. É assim que, pouco a pouco, os resultados vão surgindo, as imperfeições vão-se esbatendo, a clareza e a limpidez das cores tornam-se luminosas na tela. Estes avanços técnicos estão bem patentes nas suas últimas obras, se as compararmos com outras realizadas à anos atrás.
O artista ao dominar a técnica torna tudo mais espontâneo, as soluções surgem com outra facilidade, o gesto liberta-se e, assim, expressa melhor as suas emoções.
A par das dificuldades técnicas advém outra: a procura do estilo! O estilo corresponde ao modo pessoal como o autor dá vida às cores e às formas. Ao modo como as relaciona no quadro, e que delas transpareça uma individualidade própria. Mas… não se ficam, por aqui, as preocupações do artista criador. É que é necessário reflectir, pensar no assunto que pretende deixar expresso no quadro, ou seja o tema. E, na mente do criativo desfila o campo inesgotável da imaginação, que pode estar associada a aspectos que têm a ver com: o real, o irreal, o surreal, o hiper-real ou mesmo a pura abstracção.
Neste particular, na obra do Nuno, é bem evidente a tendência para a realidade visível, ainda que, muitas vezes recorrendo à memória ou ao registo fotográfico de cenas de um passado recente.
Não estou aqui para falar de mim, mas, só por uma questão de comparação, direi que as minhas preocupações na definição do meu estilo, vão no sentido contrário ao do Nuno, já que, procuro afastar-me dessa realidade visível. O exemplo é só para dar a entender que os caminhos da criação artística são infinitos e díspares.
As obras do Nuno e, em particular, os retratos, são de uma fidelidade à imagem fotográfica que por vezes a excede em detalhes. A sua técnica de “Sfumato” (esbatidos) inventada na época da Renascença Italiana do Século XV por Leonardo da Vinci é de grande eficácia e subtileza. A agudeza do seu olhar na captação das imagens reais visíveis, é comparável à objectiva fotográfica que ele – utilizando noutros meios – transporta para o desenho ou a pintura.
Na sua galeria de modelos retratados, inclui numerosas figuras mediáticas do espectáculo, da televisão, do futebol e da política.
Muitas dessas suas obras têm surgido nos ecrãs da televisão com alguma frequência, graças ao apoio do seu amigo e figura conhecida que é o actor e apresentador Fernando Mendes. É, a partir deste meio de comunicação, que o pintor Nuno Pedreiro se tem tornado conhecido pelo país fora. Ele próprio o afirma na entrevista que dá à Dr.ª Donzília Alves no livro agora publicado, ao dizer: - “que exponho na melhor galeria do país, que é a televisão”!
Se não é a melhor, é, sem dúvida, o meio mais eficaz para levar o seu nome ao conhecimento de milhões de portugueses.
Nessa mesma entrevista, sobre a sua obra pictórica afirma: “A minha pintura é muito simples. É o reflexo do que sou. Pretendo transmitir emoções, sensações e… especialmente pintar a minha Gândara”.
Na frase final “a minha Gândara” adivinha-se uma grande emoção; sente-se nela um enorme sentido de gratidão. O Nuno é um gandarez do coração, e, por ter sido dotado com capacidades de expressar as paisagens, os usos e os costumes da região que o viu nascer, conferem-lhe raízes profundas a este solo e a estas gentes. O facto de ter ido para a Venezuela apenas com três anos de idade; ao fim de dez anos regressar à Lentisqueira natal, onde se fixou para morar, trabalhar, casar e ser pai de uma menina, nunca o fez desvincular-se, emocionalmente, desse lugar situado no “Coração da Gândara”.
Tendo-se revelado, desde criança, a tendência para o desenho e a pintura, é, contudo, com o seu regresso a Portugal que toma a decisão da sua vida: tornar-se pintor!
Posso imaginar, que, o decidir enveredar por uma carreira artística de alguém que vive numa pequena aldeia, revela uma obstinação, que só o talento e o amor à arte justificam. Apesar dos encalhos e das dificuldades iniciais, lá foi conseguindo quebrar as barreiras do isolamento geográfico da Lentisqueira e da sua “Gândara”. É que, mesmo em grandes cidades muitos artistas não conseguem transpor as barreiras do anonimato.
Hoje o Nuno conseguiu atingir um patamar na escala do sucesso, que lhe permite trabalhar sem ter de cumprir horários rígidos… o que não quer dizer que trabalhe menos. Fazer da arte um modo de vida requer trabalhos redobrados e sem direito a reforma… pois um artista nunca a deseja.
E é assim que o Nuno vai pintando a “sua Gândara”legando aos vindouros uma vasta documentação de obras pintadas e desenhadas dos usos e costumes, em vias de extinção, que no futuro constituirão um repositório de relíquias de um passado que formaram a identidade das gentes desta região.
O fenómeno da globalização, vai estabelecendo os conceitos específicos e particulares dos lugares, das regiões e mesmo o de fronteiras. O que nos ligará ao passado é a memória, auxiliada pelos registos visuais, escritos e sonoros.
E, por isto ser verdade, não nos devemos esquecer de outro artista mirense que trabalha a madeira a canivete, criando uma vasta galeria de personagens em acção, na prática de velhos costumes gandareses. Trata-se de uma documentação fundamental, a lembrar um passado recente vivido pelos nossos pais e avós. Refiro-me à obra escultórica com características muito populares de Manuel Carapito, também conhecido por Neco Pompeu.
Aqui deixo o alvitre à Editora “Areias vivas” para que a obra deste artista seja tema de um possível livro com a chancela desta Editora.
Manuel Carapito e Nuno Pedreiro representam duas sensibilidades distintas de artistas, tanto pelos estilos, como pelas técnicas utilizadas, mas com uma particularidade comum, que é o de expressarem nas suas obras as suas vivências directas e pessoais que reflectem bem o meio onde nasceram e vivem.
Para finalizar, e sobre o que acabei de dizer, gostaria de emoldurar com um pensamento que, em síntese, desse um sentido profundo à minha modesta oratória. É aqui, que nos servimos das tábuas de salvação, que, normalmente, nos atiram os mestres do pensamento e da literatura.
Esta, vem do grande escritor francês do séc. XIX: Victor Hugo, que no prefácio do seu livro “Cromwell” escreve a certa altura:
“O fim da arte é quase divino: ressuscitar se faz história; criar se faz poesia”.
Obrigado!!!
PALAVRAS PARA QUÊ É UM ARTISTA PORTUGUÊS E
ResponderEliminarGRAÇAS A DEUS FOI BAFEJADO PELA SORTE;EMBO-
RA PARA SE CONSEGUIR ENTRAR NO MUNDO DA "ARTE"
SEJA BASTANTE DIFÍCIL,POIS ALÉM DO DOM QUE
DEUS NOS DEU TEM QUE SE TER A SORTE DE VEN-
DER OS TRABALHOS E EXPÔR MUITO.
ANTÓNIO VINHA
(ARTISTA PLÀSTICO)
MEUEMAIL antoniovinha@gmail.com